CALMA, SONHO D’ALMA
Laécio Beethoven
Em meio a ranchos vê-se um rio que, febril,
Guarda encanto sedutor.
Garantem que às suas águas fundas,
Mágoas deram um tom marrom à cor.
A “gameleira” ensombra “pancas” e barrancas,
Mas por cima do “agueirão”,
Quando o sol desperta a planta, à sombra santa,
“Pauteia” um tema e um bordão.
Quem por lá passa ouve e sente!
Canta a gente a “parlenda” de um amador
Que ao mergulhar-se pela pérola mais bela (a canção),
Não regressou.
Calma, Sonho D’alma...
Em outros tempos, quando o lado “avarandado”
Apontava a amplidão,
Escutava o cantador, no tom da água,
O pulsar de um coração.
Garimpando a doce ostra (nela crera),
Como não fosse do mar,
O sonhador deixou o solo, firme colo,
Pra “solfar” no “parlendar”.
Tem uma viola de “sequóia”, que ora bóia
E com letra de amador,
Traz escrito ao braço: Calma, Sonho D’alma,
A canção que não tocou.
Glossário:
gameleira: árvore; pancas: troncos de madeira; agueirão: grande quantidade de água; pauteia: escreve em pauta, em pentagrama; parlenda: conto musicado; avarandado: varanda; solfar: solfejar, cantar notas; parlendar: universo de parlendas e contos; sequóia: madeira, árvore gigante e antiga.