Vem
entra na minha casa
come a carne e abre as gavetas
leva a roupa e as camisas e os postais
Vai
dizer ao fim do mundo
as palavras que escorregam
na garganta dos que gritaram demais
descansa a cabeça, que a travesseira
quem te oferece é a estalajadeira
Vim
ao mundo por acaso
em Portugal, não tenho pátria
sou sozinho e sou da cama dos meus pais
Sou donde me apetecer
sou do mar e sou do corpo
das mulheres estranguladas nos canais
Descansa a cabeça…
Sei
fazer guerra à guerra
sei histórias verdadeiras
sei resistir ao calor, aos temporais
Sei rasgar quando é preciso
é preciso tantas vezes
duas vezes, outras tantas, muitas mais
descansa a cabeça…
Se ao
partir pela madrugada
tiver fome, matarei
para comer, roubarei os vossos quintais
Se ao
partir pela estrada for a
encontrar vida no mundo
pararei onde calhar, entre os mortais
Descansa a cabeça…