Nunca vivi nada em vão
cada qual sabe do que tem
ninguém pertence a ninguém
seja inimigo ou irmão
Seja inimigo ou irmão
temos a nortada na pele
a discutir do farnel
já se perdeu muito pão
Já se perdeu muito pão
e as bocas ainda a sonhar
a ver esperanças no ar
quando há certezas no chão
E para aqui estamos em salamaleques
a lamber mãos feitas para abanar leques
a pedir bis, a gritar bravo,
a aplaudir, muito bem
e até domingo que vem
Nunca vivi nada em vão
vi muita palavra tornar-se
em tante gente em disfarce
e em muita boca traição
E em muita boca traição
e em cada de nós um olhar
se nos vierem falar
sabemos quem eles são
Sabemos quem eles são
como quem sabe de si mesmo
o medo, a vida desfez-mo
a letra me tomarão
E para aqui estamos em salamaleques
a lamber mãos feitas para abanar leques
a pedir bis, a gritar bravo,
a aplaudir, muito bem
e até domingo que vem
Sabemos já d´antemão
quem nasceu p´ra viver de luto
a flor de Junho dá fruto
o homem sozinho é que não
O homem sozinho é que não
que diga quem quase morreu
a perguntar "quem sou eu"
e a viver da solidão
E a viver da solidão
fomos pouco a pouco fazendo
a nossa cova no vento
abrigados num caixão
E para aqui estamos em salamaleques
a lamber mãos feitas para abanar leques
a pedir bis, a gritar bravo,
a aplaudir, muito bem
e até domingo que vem.