Dois três zero, guarda chama
já não tarda
hão-de revirar a cama
hão-de revistar a cela
olhar, espiolhar, esquadrinhar
verificar
barra a barra, se a janela…
Na prisão
Na prisão
poucos são
os teus pertences
mas ninguém sabe
onde escondes
o que de secreto penses
Na prisão
Na prisão
o portão
abre ao contrário
e é na culpa
que defrontas
o maior adversário
Na prisão
Na prisão
a lição
serve p´ra vida
nunca pouses
onde sempre
podes andar de fugida
Na prisão
Na prisão
muitos são
os preventivos
só na sentença
contarás ao certo
os dias já perdidos
Hoje é dia de visita
rapariga
pinta a boca e ata a fita
Hoje é dia de visita
meu rapaz
põe a camisa bonita
Sou p´ra ti, aqui me tens
p´ra semana, vens, não vens?
Vai tocar a campaínha
e a tua mão ainda na minha
e em surdina já te gritas:
Porque há horas tão velozes
e semanas infinitas ?
Na prisão
Na prisão
um irmão
é precioso
pouco interessa
que a lei justa
veja nele um criminoso
Na prisão
Na prisão
dentro do pão
dois pacotes
pode ser que ao
consumi-los
muitas raivas tu enxotes
Na prisão
Na prisão
o pulmão
respira à toa
não se entende
se morrer
é quase nunca coisa boa
Na prisão
Na prisão
O tesão
é cofre-forte
que ora solta
a semente
para a vida
ou para a morte
Hoje é dia de visita
rapariga
pinta a boca e ata a fita
Hoje é dia de visita
meu rapaz
põe a camisa bonita
Sou p´ra ti, aqui me tens
p´ra semana, vens, não vens?
Vai tocar a campaínha
e a tua mão ainda na minha
e em surdina já te gritas:
Porque há horas tão velozes
e semanas infinitas?
Na prisão
Na prisão
O trovão
não relampeja
mas ao menos
nessa espera
Nunca abrigo se deseja
Na prisão
Na prisão
a televisão
nunca tem grades
passa crimes
e delitos
que vão ser impunidades
Na prisão
Na prisão
com razão
se tenta a fuga
mas quando avanças
marcas passo
impaciente tartaruga
Na prisão
Na prisão
a escuridão
nunca nos cega
vemos túneis
que se acendem
quando neles se escorrega
Hoje é dia de visita
rapariga
pinta a boca e ata a fita
Hoje é dia de visita
meu rapaz
põe a camisa bonita
Sou p´ra ti, aqui me tens
p´ra semana, vens, não vens?
Vai tocar a campaínha
e a tua mão ainda na minha
e em surdina já te gritas:
Porque há horas tão velozes
e semanas infinitas ?
Na prisão
Na prisão
o portão
abre p´ra fora
e a liberdade
é de repente
o que ao longe te apavora
E da prisão
da prisão
tens na mão
a tatuagem
que perfura
os caminhos
em quadrado da viagem