Trago na alma um vício de cantador
Um peito cantante e uma garganta de cigarra
Uma estampa charrua com verso de payador
E um milongueando bordoneado na guitarra
Manadas de rima vão entropilhando notas
Porteira a fora atorando a pampa no meio
Verso espontâneo Corcoveia no meu canto
Que de pronto nota que o canta é de um missioneiro
Meu canto é como uma oração sem catequismo
De um bugre ateu que só tem a ciência por fé
Trazendo a Cruz de lorena estampada ao peito
E tendo por guia o lunar de São Sepé
Mas se preciso for pelear de novo pelo chão
Outra guerra então se proclama por aqui
Mostrando a fibra e raça estampada na cara
E o sangue altivo do meu povo Guarani
Meu sete povos patrimônio do universo
São sete ruínas, com sete santos plantados
Demarca a história em sete pedaços de mundo
Escritas no lombo deste meu chão Colorado
Uma cruz de pura história demarca o trono dos Bugres
Fatos e crenças forjando dignidade
Cultura de um povo e uma raça em extinção
Que me faz diferenciado do resto da humanidade
Amamelucos, indigentes, débis mentais
Dizem que os missioneiros querem ser os donos da terra
Esquecem eles que os nossos padrões morais
E os ideais foram plantados na guerra
Então me revolto, de manso e tiro o chapéu
Componho o peito e então respondo ao parceiro
Já sou missioneiro bem antes de ser gaúcho e fui gaúcho pra depois ser brasileiro