Tenho a vida de a cavalo
entre alegrias e penas
por andejar campo afora
mudei a cor das melenas
semeando tombos de pealos
de Serro Largo a Bolena
Marcas de laços e guampas
bordadas no tirador
despertei risos nas chinas
por guitarreiro e cantor
abri janelas de ranchos
nas dobras do corredor
Das Palmas ao Jaguarão
conheço sangas e grotas
do Camaquã ao São Luiz
dos Três Cerros ao Candiota
gastei o aço do estribo
na curvatura das botas
Já pisei cada coxilha
deste meu pago fronteiro
de Santa Tecla ao Aceguá
formei um tino campeiro
fui peleador e ginete
nas festas de vichadero
Só quem andou como eu
Pode entender o que falo
Fazendo cantar sinceros
No compasso do barralo
E aprendeu ir mais longe
Sobre o lombo do cavalo
Enredei crinas nos dedos,
nos dois lados da fronteira
domei potradas veiacas
uruguaias, brasileiras
e andei parando matreiros
nas sogas das boleadeiras
Nas tropilhas das estâncias
andam pingos no meu freio
são cavalos pra quem sabe
o que fazer nos arreios
pra estes que cincham sozinhos
num pelado de rodeio
Empurrei milhas de bois
em pingos de cola atada
nas tropas de São Domingos
que vinham cheirando a estrada
e silenciaram pra sempre
na marreta da charqueada
Por onde desencilhei
nos mais crioulos rincões
deixei cantigas de espora
no chão duro dos galpões
e floreios de cordeonas
entre os mates dos fogões