O gateado apalpou a estrada
Bufou e olhou para o chão
Sentiu a pedra graúda
Quebrar o casco da mão
O andante bateu na estância
Pediu potreiro e galpão
No cinamomo da frente
Frouxou cinchas e lombilhos
Baixo falava pra dois
Segredos dos andarilhos
Suado o pêlo gateado
Da Lua copiava o brilho
Nos dias que se vieram
Encilhou pingos de lida
Tosou chibo, apartou boi
Deixou inté cerca estendida
Fez da estância um pastoreio
Pra rondar a própria vida
Fim de dia lhe esperava
Cabeça sobre o alambrado
Acariciava o pescoço
Curava o casco quebrado
E se a noite era de andar
Miravam o campo prateado
Tarde campeava o galpão
Com aquele meio segredo
Vinha na soga dos olhos
Uma ânsia pros pelegos
Buscar na estrada dos sonhos
Calma pros desassossegos
Mal se aprumava a manhã
E como campeando o rumo
Bombeava o Sol destapado
Que vem do campo do fundo
Via no Sol seu gateado
Cruzando em volta do mundo
Se hoje paro ensimesmado
Vendo cruzar sois e luas
E neles a imagem crua
Do homem e seu gateado
Travada espora de puas
Pra me levar do seu lado
Sempre revejo o andante
Nestas visagens de infância
Me acompanha a ressonância
De um coração estradeiro
Me abriu um caminho inteiro
Dentro das minhas distâncias
O casco sentou no chão
Numa minguante invernera
Bateu a terra com a mão
Caiu geada a benzê-la
Se acendeu contra o oitão
Brilho de argolas e estrelas
O gateado apalpou a estrada
Bufou e olhou para o chão